A cultura reside

Reflexões sobre uma cultura libertária

Hoje, como em todos o 07 de Setembro, o Brasil celebra sua independência. Nesse espírito que evoca o patriotismo sensato e os sentimentos mais fervorosos de uma nação que superou tantas adversidades em sua democracia e garantia de direitos, gostaria de chamar atenção para a cultura e a liberdade que dela emana. Se é que ela mesma, lá de dentro da gente, não se torna a presunção e a consciência de nossa própria liberdade. Por certo, nesses diálogos provocantes, podemos, cada um de nós, concretizarmos essa nossa própria compreensão sobre a importância da cultura em nós, em nossa liberdade e para nosso ser, nosso existir e até mesmo reexistir em nossas dimensões de nós em nossos ciclos de evolução e maturidade.

Iniciamos essa reflexão dirigindo nosso pensar à cultura que vivíamos antes mesmo de saber que era cultura, lá em tempos remotos, ao menos para reafirmar que a cultura, como parte indissociável de todo ser humano, sempre foi e será, portanto, indispensável à manutenção da vida. E se pensarmos, jamais negligenciaremos, nem esse fato e nem mesmo nos esqueceremos do poder que a cultura exerce em nossa evolução pelo simples fato de ela residir, ou mesmo, de ela resistir, independente dos poderes que ameaçam esta cultura em nós, de forma equivocada e prepotente.

Sabe-se que muitos destes líderes em seus poderes constituídos através da escolha do povo e ainda aqueles que se impuseram, já se acharam imponentes o suficiente para determinar o que pode ou não ser cultura, se o povo pode ou não usufruir desta, inclusive em qual deveria ser as dimensões ou intensidade deste usufruto de seus direitos culturais, que de certo são inalienáveis.

Evidentemente que estes desconheciam o fato de que esta sempre será uma batalha invencível. Pois, limitando-se a cultura, limita-se o povo, extinguindo-se a cultura, extingue-se fatalmente a sociedade. E, certamente nesta luta por sua sobrevivência a cultura prevalecerá e deve poupar-nos da morte quando ela for iminente e pela simples razão de sermos sua única e natural habitação.

Com a promulgação da Constituição de 88 o estado brasileiro acertou em cheio em regulamentar seu dever, sem dúvida alguma. Porém, infelizmente, somente a intenção de garantir esses direitos é insuficiente em si, pois, como vimos em algumas fases obscuras da história de nossa democracia, antes e até mesmo depois da promulgação da lei que trata dos direitos à cidadania cultural. Obviamente, não podemos entender, compreender e até mesmo praticar essa democracia em sua relação intimamente política, em que o estado diz que pode ou não garantir, permitir ou simplesmente apoiar, pois é indispensável antes de tudo que esta estenda-se para a consciência de que a cultura representa uma liberdade congênita da pessoa humana para a expressão máxima de sua existência, de sua identidade e de sua dignidade.

Quando lançamos olhares críticos na história do Brasil e da humanidade, vemos sangue e muitas mortes ocasionadas por duas dimensões de forças. Por um lado “poderosos” que se diziam donos de pessoas, suas culturas e valores, de outro lado, pessoas energizadas de corpo e alma motivados pelo senso de pertencimento e de preservação de suas raízes, saberes, identidade, enfim, por sua própria cultura e pela preservação de suas origens. Pessoas que resistiram, ainda resistem e continuarão a resistir enquanto durar a sociedade, a fim de defender o único e fundamental direito, que é o de ser, o de existir e expressar suas verdades.

Esses dados, por si só, servem de alerta para os líderes autoritários. A cultura não permite nenhum tipo de submissão forçada, intimidatória, escravocrata, reducionista, marginalizadora, perversa e nem excludente. A cultura que está dentro de cada um, sabe decidir por si só a quem e como se submeter. O poeta, o palhaço, o índio e toda criança exemplificam bem como a cultura gosta de ser tratada, pois, a fim de manifestar a maior de suas virtudes que é a sua liberdade. Portanto, a cultura tem como principal sinônimo a liberdade. E esta cultura que está aqui, dentro de cada pessoa, deve lembrar que independente das leis humanas, por meio da lei natural, portanto, a lei maior, já está posto que todas as pessoas sejam livres.

Fato é que a cultura reside. Ela reside em todo homem e mulher, e em todas as compreensões que se têm sobre a complexa diversidade e das belezas do ser masculino e feminino. A cultura não se tornará refém de nenhuma mente brilhante, de nenhuma supremacia e poder meramente terreno que tentar subordiná-la, almejando usurpar sua liberdade. Pois, a cultura está condicionada, predestinada a defender apenas a dimensão da alma inventiva, criativa e originalmente humana, justamente aí, na apropriação, expressão e prática de sua liberdade individual, no sentido de ter a relevância de um  indivíduo em sua integralidade. Uma vez usufruindo desta consciência máxima do poder de sua liberdade humana, emanada inclusive de sua própria cultura e seus valores inegociáveis, saberá muito bem se portar diante das liberdades do outro em todas as suas dimensões e aplicações desta mesma liberdade nos diversos relacionamentos também inseparáveis coexistir na vida em comunidade.

JÁ DIZIAM…

“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

Antônio Lobo Antunes – Escritor e Psiquiatra português

“Um povo sem conhecimento, saliência de seu passado histórico, origem e cultura é como uma árvore sem raízes.”

Bob Marley – Cantor e Compositor Jamaicano

É na liberdade de manifestar sua cultura, como defende a própria constituição federal de 88, em seu artigo 215, que revela a maior consciência e prática da independência de um povo verdadeiramente livre. Não se pode, por nenhuma astúcia ou pretexto se sobrepor, ou até mesmo tentar subverter esta que é a maior revelação do significado de ser humano inseparável de sua cultura, pois negá-la, ignorá-la é eliminar o próprio homem em seu papel de existir e espontaneamente se reafirmar ao mundo através de quem é.

Portanto, a cultura reside. Ela mora em si, porém só sobrevive porque está a morar dentro de cada um de nós. É nosso fundamento, visto que ela foi estabelecida ao mesmo tempo em que se estabeleceu a humanidade.

Nada mais justificaria a alma humana estar tão sedenta em alimentar-se dos nutrientes das mais amplas e diversas experiências e significações que por meio da cultura são elucidadas, para que assim possa naturalmente identificar-se e expressar-se como gente.

Nada mais justificaria lutar tanto pra sobreviver conectado às raízes que nutrem as mais profundas e longínquas memórias e inspirações disponíveis para cada ser consciente e protagonista em seu papel como principal agente de seus próprios processos de aperfeiçoamento como pessoa em suas mais variadas ramificações do ser e desse tão mencionado existir, mas também no de reexistir, no sentido de que ao mesmo tempo ressignifica-se, se reformula constantemente no percurso de sua vida.

Portanto, que se reconheça e respeite essa independência de cada ser. Que cada pessoa; seja na família, nas empresas, em grupos de amigos, ou inevitavelmente também em grupos de pessoas que não se identificam, que líderes, os governos e o próprio estado reconheça a necessidade de se reafirmar essa liberdade “individual”. Que esta seja garantida, sim, em leis, mas que seja defendida e promovida como a maior e mais legítima verdade aqui, no meio da sociedade, em todas as suas camadas e em toda sua plenitude.

Que se faça isso valer, principalmente porque a cultura reside e está aqui pra nos lembrar que sem liberdade jamais existiremos e que para isso, não é necessário mais haver nenhum tipo de guerra, nem sangue, nem mortes.

“Não basta apenas ser e existir, reexistir, reconfigurar-se também é preciso.”

Cleyton Gonçalves – Gestor Cultural

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