Uma vida inteira de aculturação

Por Cleyton Gonçalves

A arte sempre me fez muito bem, sempre completou as lacunas deixadas em minha estrutura. Sempre me desafiou a buscar um significado pra cada situação e acontecimento, pra cada perda ou conquista. Inclusive me inspira sempre a expressar a voz de minha existência de várias formas, com minhas inteligências e múltiplas habilidades providencialmente cultivadas a partir de um universo em que esse era o único refúgio mais concreto.

Tudo começou quando minhas mãos eram inquietas pelo que fazer com os traços em toda parte. E quando meus olhos logo foram abertos para o mundo e comecei a ler incansavelmente. E então, em um dado momento, me vi poetizando junto com a vida, projetando em desenhos e palavras o percurso que queria construir em minha história. E tudo isso sempre me fez o bem em uma dimensão e intensidade que as pessoas reais jamais conseguiram promover em mim, mesmo que pra nós.

Com a Poesia, primeira arte que me cativou logo na infância, desenvolvi a resiliência. Com isso, aprendi a poetizar sobre cada circunstância adversa ou não da vida. A arte literária me ensinou, muito além de pensar, poetizar e a comunicar expressivamente o que sinto e penso. Ela me ensinou também a conviver com as situações mais contraditórias e conflituosas e sempre, sempre buscar desvendar o que cada uma dessas adversidades e situações da vida tem a me ensinar e quais de seus nutrientes deveriam me fortalecer e me orientar nesta jornada imprevisível.

Foi assim, com a carência de amores naturalmente e originais, na ausência de amores fundamentais, sendo que todos falharam, mesmo aqueles que deveria servir de resgate, salvação e orientação pra vida, desistiram, não existiram, ou me foram negados. Foram todos complexos e distanciados de um amor que protege absurdamente. Todos falharam propositalmente ou não, falharam. Decido pensar que não falharam por causa deles mesmos, mas por minha causa, para o que todas essas situações, processos e experiências vividas na pele deveriam promover minha estrutura humana. Hoje, minha maturidade e descoberta do propósito me convencem de que não poderia ser diferente. Eu precisava justamente dessa minha história autêntica sobre mim e minha vida. Eu necessitaria exatamente dessas substâncias gerais modelando minha trajetória para uma formação mais integral possível. Portanto, jamais irei me refutar dessa grandeza, dessa nobreza de escolher entre a destruição mais completa de mim, promovida por todos os dilemas, ou utilizá-los para uma vida que seja no mínimo digna.

Por isso digo, que estamos predestinados a não ser suficiente pra ninguém, mas que isso seja muito bem gerido e até mesmo bem compreendido por todos nós.

Pois pra mim, ainda que todos tenham falhado. – A poesia, jamais!

Pois, foi assim. Sempre assim. A poesia me ensinou a conversar com ela sobre tudo, pois ela sempre soube me compreender muito bem e me serviu como a grande conselheira da vida. E assim fui vivendo até aqui e conectado às demais artes. Tudo isso pra não me perder pra sempre, nem na devastadora angústia, nem na dissimulação e nem como gente. É com ela que verbalizo meu ser completamente, na expressão nobre, mas inquieta de meu ser.

O desenho, por sua vez, me deu a chance de me reconhecer e lembrar que dentro de mim há fontes inesgotáveis de criatividades que posso criar e colorir a vida como quiser, para as mais diversas finalidades, inclusive para a cura tão reivindicada por todos aqueles, que assim como eu, reconhecem que necessitamos.

Me lembrou que posso expandir minha imaginação e assim criar lugares mais bonitos sempre que precisar. Distante de tudo que possa me destruir completamente. Inclusive, quando precisar fugir da dura realidade que me extinguiria se eu não encontrasse nenhum outro refúgio. O desenho continuou me ensinando sobre sonhos, sobre o esperançar e sobre imaginar e vislumbrar novos futuros. Ajudou a me refinar e a lapidar minha estrutura humana para ousar enxergar outros horizontes, distantes de meu ninho.

Foi assim durante todo meu percurso. Desde minha primeira infância, quando ainda podia frequentar a creche da primeira cidade que conheci, chamada de Mata Verde-MG/Vale do Jequitinhonha, quando ainda era distrito de Almenara/MG.

Sempre me lembro com lágrimas nos olhos, destes poucos momentos junto a todos os meus irmãos tão pequeninos, antes da grande separação que mudaria radicalmente o rumo de nossas vidas. Vivíamos conosco, enquanto todo o resto desmoronava e de repente não nos tínhamos mais. Tendo um deles partido pra sempre naquela época e outro que ninguém arisca dizer onde está.

E foi assim, o desenho foi também meu lugar de paz em meio às muitas guerras, principalmente no enfrentamento das tantas batalhas que acontecem dentro da gente. Pois, quando eu tentava compreender aquilo que ninguém tinha coragem de me dizer, dialogava com os livros que me orientava e me apresentava o mundo incrível das artes que com muito encanto me seduzia pra si, ao mesmo tempo que me estimulava a imaginar o que poderia haver além das montanhas que cresci admirando e pisando, muitas vezes com os pés descalços.

Enquanto crescia, sempre me perguntei o que havia por de traz daquelas montanhas, depois daquelas que já havia pisado pra buscar lenha e avistava um sol exuberante no horizonte, ainda mais além. Contudo, estava sempre com as artes e me via assim florescendo e me sentindo compreendido.

Enquanto, ao mesmo tempo em que se tornava meu chão, reconheci logo na pré-adolescência, que as artes foram sempre meu porto seguro e o ponto de partida para meu desenvolvimento e fortalecimento como pessoa, integralmente.

Foi através do desenho que iniciei a prática de me valorizar, além do indivíduo que carrego comigo pra todas as partes, me ensinou inclusive a valorizar minhas habilidades artísticas despertadas desde muito cedo para propósitos determinados. Inclusive para tornar a vida de jovens e seus grupos daquela época um pouco mais dinâmicas, ajudando a dar vida e cores às suas camisetas e calças para suas diversões. Que saudade daquela época tão boa.

Me lembro aqui agora:

Como era bonito ver toda essa beleza do horizonte, lá da janela de minha Vó Rosa, Vó e Mãe, que Deus a tenha. Enquanto muitas vezes desenhava e arriscava cantarolar e arranhar um violão no cafofo espetacular de meu grande amigo Gil Mares. Uma das maiores referências na locução da Rádio Band FM de nossa linda Bandeira/MG desde aquela época. Foi nessa mesma janela que costumava resgatar as poucas memórias que tinha da vivências com meu Avô Deraldo, que me levava para a roda do reisado no Alto da Colina. Onde ele tocava instrumentos que ele mesmo fazia de bambu e arriscava tocar acordeão e demais instrumentos de percussão.

Foi então, em meio a toda essa nostalgia e descobertas de mim, que o ensino formal me acolheu bem na Escola Estadual João dos Santos Amaral, em Bandeira-MG/Vale do Jequitinhonha, onde morava com Minha Vó Rosa. Porém, sempre tive a escola da vida como minha maior referência do aprender, pois foi onde sempre me encontrei livre pra pensar, sonhar, pra criar e reciclar todo o aprendizado a cada instante.

Foi nela, na escola da vida, que mergulhando no fazer artístico e cultural, que na maioria das vezes fui desafiado a me confrontar comigo mesmo e meus desafios de me reconhecer no mundo, mesmo que muitas vezes tão fragilizado por todas as questões incompreendidas, mas aceitas como parte de mim e de minhas necessidades mais legítimas e autênticas do ser eu mesmo.

Fui estimulado por todas as partes a reafirmar o caminho que naturalmente me definia e pela qual todos me reconheciam desde a infância.

Foram familiares, amigos, professores e colegas de escola que sempre me procuravam pra fazer cartas e poesias pra seus galanteios, para ilustrar trabalhos escolares em uma época sem computadores e internet acessíveis, murais da escola, letreiros em muro para campanhas políticas, pinturas ornamentais em paredes, panos de prato e tantas outras propostas artísticas que me lapidaram, me inserindo definitivamente no universo artístico e cultural.

Quando relembro de todas essas vivências o coração palpita com tanta gratidão. Pois reconheço que não poderia ser mais bem acolhido por todos que sempre me cercaram. E que, embora impactado por todas as outras ausências, eu precisava exatamente de todas essas outras formas de riquezas.

Anos mais tarde, mais precisamente em 1997, após reconhecer que pelo desenho me veio o primeiro salário no setor cultural, ao 14 anos loquei o que foi por alguns meses meu estúdio de desenhos e criações, em uma sala onde antes sediava uma antiga rádio da Cidade de Bandeira/MG, a mencionada BAND FM. Onde também servia para treinamentos e estudos de minha primeira formação artística, no Curso de Desenho Artístico, Publicitário e Pintura, inclusive Caligrafia, orgulhosamente concluído por correspondência, pelo Instituto Universal Brasileiro com sede em São Paulo.

Orgulhosamente, por que sei dos desafios de morar em uma cidade, que apesar de linda, amada e cheia de sua história, era ao mesmo tempo isolada, lá no final de Minas Gerais, divisa com a Bahia, em uma época em que não se tinha outras opções para formações, capacitações e profissionalizações. Além das grandes adversidades gerais da vida, as quais sempre me cercaram e que possivelmente me dificultariam outras propostas de formação. Não poderia esquecer que nessa época fui convidado para Diretor Artístico do Grupo Comunitário Estrelar. Um grupo formado por jovens, sendo eu o mais jovem deles, na época, que atuava em Bandeira/MG. Além da solidariedade, promovia ações culturais aos munícipes.

Pode-se observar que, mesmo em meio àquelas situações complexas, foi possível instigar em mim reflexões em meu íntimo. Tudo isso me inspirou a ser maior do que eu sempre supunha ser. Justamente porque, precisei combinar a superação com a busca de me compreender e de me desenvolver como gente, aproveitando cada conexão feita no percurso dessa vida tão breve que todos nós temos.

Foi quando viajei pra São Paulo no final de 1998. Então, já em Poá – São Paulo, morando com minha mãe, neste estado, tive minhas primeiras experiências de contratações em uma Empresa de Comunicação Visual J&D Localizada no Centro de Suzano/SP, onde colaborei com as publicidades em fachadas, como letrista na confecção de faixas e letreiros em muros, inclusive colaborando com o Grafiteiro Comercial Dedé. Em seguida fui contratado como Letrista para atuação em Lojas de Móveis do Centro de São Paulo, Santa Cecília, Marechal Deodoro, Avenida São João e Vila Maria.

Nesse mesmo período, na tentativa de montar minha primeira banda na igreja, que em 2001 decidi estudar Canto em uma escola de música chamada Yaweh, localizada no centro da cidade, mais especificamente na 26 de Março e ao lado do Veran. Supermercado onde anos mais tarde trabalharia como Fiscal de Loja por alguns bons anos. Tempos mais tarde, após me aprofundar nos estudos do Canto, com formações, inclusive na USP através de seu Coral tradicional em São Paulo com diversos professores, como; Antonieta Bastos, Baldur Liesenberg, Carmina Juarez. Além da Técnica Vocal, através do CoralUSP também estudou; Piano, Regência,  Percepção Musical e Práticas Teatrais com Cláudio Lucchesi na preparação para o Coro Cênico durante o ano de 2006. Onde permaneci como Coralista e Monitor sob Regência de Mauro Aulicino de 2004 até 2008 na unidade do Coral USP com sede na Estação Ciências – Lapa/SP.

Também nesse contexto, tive a honra de concluir o curso de Musicalização Infantil com Márcia Visconti.

Atuei como Professor de Canto e Percepção Musical particular desde 2003, atuando também em várias outras de música do Alto Tietê, como; Sons e Tons/Suzano; FAMA/Mogi; IBMS/Suzano; Talentu´s/Ferraz de Vasconcelos; Yaweh/Poá; Blue Note/Poá e anos mais tarde na FAMA de Suzano. Inclusive em 2006 tive meu primeiro contato ministrando Musicalização para crianças em instituições do Terceiro Setor, ministrando Oficinas de Musicalização no Céu Jambeiro e demais instituições. Também na Escola Educare de Educação Infantil, Centro de Recreação Infantil Moranguinho em Poá. Instrutor de Canto, Violão, Iniciação Musical e Canto Coral no Programa Vivências Culturais da Prefeitura de Suzano/SP. Posteriormente atuei como Educador Musical na APAE – Poá/SP ministrando Oficinas de Musicalização e Teatro, como Educador Social na APAE – Ferraz de Vasconcelos ministrando Oficinas Culturais integrativas para seus atendidos.

A grande redescoberta

Volto então a 2001, anos das grandes mudanças em minha vida. 2001 também foi o que tive a maior experiência de minha existência até então. Essa vivência mudou e deu um sentido maior a minha vida e me fez refletir profundamente sobre o passado, o presente e futuro. Ela me fez decidir sobre o que deveria perseguir definitivamente a partir daquela noite do dia 19 pra 20 de Março deste mesmo ano.

Desse encontro me veio à resposta que sempre buscava sobre meu papel no mundo. Sobre minha missão, meu propósito e plano existencial redescoberto. Naquela noite literalmente vi trevas onde precisava de luz, vi destruição onde precisava do mais solidário resgate. Foi quando tudo fez sentido pra mim. Nessa noite inesquecível, tive um sonho que muito se confunde com a verdade mais legítima que sempre busquei. Foi uma experiência tão marcante, que diferente de todos os sonhos que já tive, é o único que não me esqueço de cada sensação, o percurso e toda a compreensão que tive e que guia a minha vida inteira até hoje. E estou bem certo que será pra sempre assim.

Daí em diante, comecei a esboçar e perseguir a construção do que se tornou hoje a Ação Luzir – Instituição Missionária Sociocultural Cristã, e que depois de muitas ações realizadas e tentativas de estabelecê-la, veio a ser fundada somente em outubro de 2020, durante a pandemia do COVID 19, com a finalidade de resgatar e inspirar tantos quanto puder na missão inspirada por Jesus Cristo, maior líder da história da humanidade, em sua orientação máxima que se resume em “ser luz e sal da terra”. É a ação que esta instituição está comprometida em realizar no mundo, longe da tão nociva religiosidade, mas principalmente por meio de ações culturais, educativas, esportivas e da ação social. Porém, em momento oportunos e por meio de projetos, ações e de produções específicas, integrando a mensagem do Grande Mestre, com o máximo de ações possíveis e interagindo com tudo aquilo que deve contribuir para a autodescoberta de cada indivíduo, ajudando-o a construir sua própria história e visão de mundo, mas, precisamente na expectativa de que todos almejem uma vida longa e infalível para além desta.

É principalmente pela necessidade de colaborar com essa instituição social na realização e viabilização desta missão da Ação Luzir, sendo esta reconhecida como o maior projeto de minha vida, é que em seguida, durante o percurso dessa jornada, percebo a necessidade fundar a Brilharte Cultura Transformam e seus pilares, que são; Programa Aculturação, Brilharte Editorial, BCA – Brilharte Centro de Artes, Brilharte Comunica e Brilharte Criativa, tendo como missão “Cultivar a Arte e Cultura para o Bem da Vida” enquanto colabora para o desenvolvimento do humano integral.

Portanto, a Ação Luzir e Brilharte Transformam estão unidas pela Rede ACREDITAR. Uma rede colaborativa que deve reunir todas as forças necessárias para que juntos possamos nos tornar capazes de transformar o mundo e o máximo de pessoas naquilo que estas reconhecerem e considerarem necessário chegar a ser. Mas que, antes de tudo, que contribuam para o bem comum. Pois é assim que compreendo o ser “luz e ser o sal desta terra. 

Não foi fácil chegar a essas conclusões. Somando todas essas experiências gerais do pensar e trabalhar essas estruturas, ainda em aperfeiçoamento, está à busca constante e incansável pela reformulação e evolução contínua de meu ser a fim de me tornar cada vez mais útil como instrumento de formação e de transformação, responsabilidade essa que pra mim é inegável.

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BRILHARTE TRANSFORMAM

AÇÃO LUZIR

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